quinta-feira, junho 22, 2017

Quatro sonetos de José Manoel Ribeiro


MAR ABERTO

Procuro um calmo coração que pondera
Algo mais que os corações atribulados
Por este mundo e que não se desespera
Ao primeiro augúrio em falso revelado.

Busco uma só alma que não tenha andado
Em círculos incrédulos como esferas
Soltas, pois quando em terra árida gerados
São vendavais que o próprio engano gera.

Impressiona-me ver homens rebelados
Debatendo-se entre as pedras no deserto
Quando há os rios de água viva logo ao lado.

E por mais que a correnteza esteja perto
Eles teimam em viver no mesmo estado
Enquanto os rios vão a Deus em mar aberto.


AOS PÉS DA CRUZ

Aquele que se mostra mais determinado
Em alcançar a graça que tanto deseja
Descansa no Senhor enquanto espera, ou seja,
Firma-se na fé e não somente em seu agrado.

Tão triste o fim de quem renuncia ao estado
De servo voluntário, a ingratidão sobeja,
E passa a ser escravo de tudo que almeja,
Porque ao que deseja ele estará acorrentado.

Quando o anseio egoísta do homem invade
Sem pudor algum o coração de Jesus,
Ele ignora o “seja feita a tua vontade”.

Mas quando revestido de humildade vais
Como um cativo ajoelhado aos pés da cruz
Terás além do que desejas muito mais.


RUTE

Por justiça à sua dócil obediência
Rute, a moabita, foi recompensada.
Em Moab sua vida era pesada,
Mas em Belém se livrou dessa dolência.

Por mais triste que lhe fora a experiência
De viver e ver a sogra amargurada
Não se levou pelo exemplo da cunhada
E preferiu esmerar sua existência.

Na doce terra segavam a cevada
Quando nos campos entregou-se a viver
Oferecendo a Boaz seu belo olhar...

Sendo por fim toda mácula ceifada
Veio a colheita dos que souberam ser
Fiéis a Deus mesmo antes de semear.


JOSUÉ VI

Que caia sobre a terra todo o muro
Colocado entre Deus e os escolhidos,
E mesmo o que na rocha for erguido
Não se firmará com todo esse apuro.

    – Se um muro edificado a sua frente,
Forjado em plena força mineral,
Parece inerte, eterno e imortal,
Pela fé cairá completamente!

     Mesmo não havendo sinais de emendas
      Sob o musgo, não se escondendo fendas
      Entre os blocos férreos de Jericó,
  
      De uma muralha a ruína formou-se,
      E sangraria se de carne fosse,
      Mas sendo pedra se desfez em pó!

Um comentário:

Velho Pescador disse...

Excelentes poemas.

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