terça-feira, janeiro 13, 2015

Dois poemas de Joanyr de Oliveira


O VENCEDOR
Naquela noite em BH, quando o Espírito de Deus
visitou-me de modo memorável,
eu — quase cego — tinha as pontas dos dedos
nas tensas cordas
de uma harpa de vento.

Eu tateava imperiosas trevas
com idade de séculos e milênios...
A Deus clamei, ante as janelas apagadas
a negar-me as paisagens e rostos.
Tudo estava brumoso, mas — como sempre —
a fulgurância divina é que triunfa — e ela veio
e de leve beijou-me a ferida retina.
O Sol de Deus fez-me ver — e conferir—
quem é mesmo sobre todas as coisas,
quem é mesmo de todos o maior
nos céus e na Terra...

AUTO-EXEGESE
O poeta é assim: vai construindo.

Material leve e sem corpo
brota dos canteiros do pensamento.

Moeda não é preciso, nem estudo
de viabilidade. Tudo é viável.
Uma pedra amanhece flor ou pássaro,
o vôo, um sopro de silêncios.
Um féretro matinal pode ser
nada estático ou enfático -
mas compor tênue mancha
a brincar nos ombros da paisagem.

O poeta é assim: surpreende e cala-se. 
Vai abrindo subterrâneos 
nas carnes do nada. Percorre-se 
mesmo enraizado a grutas e argilas. 
(Vem sempre uma criança de luz 
na mãos que navegam o poema.)

O poeta é assim: ninguém lhe traduz 
o rosto a equilibrar o infinito.
Bebendo as veias do mundo,
mastiga as metáforas verdes
e as que se abrem ao beijo da solidão.

Só os anjos amam seu instável idioma. 
O poeta é assim...

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