sábado, agosto 29, 2009

Dois poemas de Ida Mae Hays

*

Minhas Mãos

Nasci com duas mãos...
Mãos simples.
Mãos úteis.
Mãos talentosas.
Mãos expressivas.
Mãos singulares.
Deus me deu duas mãos...
Porque duas mãos?
Para que duas mãos?
Quando usá-las?
Onde usá-las?
Como usá-las?
Parei, contemplei minhas mãos e
meditei...
Estão ajudando aos outros?
Estão servindo diariamente?
Estão trabalhando em qualquer lugar?
Estão expressando amor?
São dedicadas a Deus?
Ó Senhor, eis aqui as minhas mãos!



Alguém

Andei na multidão...
Senti-me só.
Ninguém me ajudou.

Cheio de problemas,
Desentendimentos,
Desapontamentos,
Tristezas.
Andei procurando ajuda...
Mas ninguém quis me ajudar.
Nem amor cristão encontrei.

Anos passaram...
Os fardos tornaram-se mais pesados.
Tropecei, caí, levantei-me.
Tropecei, caí, levantei-me de novo.

Achava que os amigos podiam ajudar;
Sim, e os colegas de trabalho;
E outros desconhecidos.
Mas nenhum deles estendeu-me a mão.

Andei na multidão...
Ainda senti-me só,
Mas, um dia, um rosto apareceu,
Alguém para me ouvir,
Alguém para me ajudar.

Os fardos caíram dos ombros,
As tristezas se tornaram em alegrias.
E eu encontrei paz no coração.

A multidão não tem rosto,
Nem sentimentos,
Nem personalidade,
Nem amor.
Ninguém tem nome.

Mas eu encontrei alguém.
Alguém tem nome,
Ouvidos para ouvir,
Coração para amar.

Fonte: Revista Visão Missionária - Editora UFMB - Jan-Mar de 1984

terça-feira, agosto 25, 2009

Um poema de José Julio de Azevedo

*
Gustave Doré


REVELAÇÃO

Houve um dia em que caminhava triste,
revendo trilhas antigas de minha alma.
Momento amargo em que
sentia não haver esperança,
pensava ser o caos a nossa herança.
Minha fé, vacilante como
uma luminária queimando
no entardecer, sob ventos,
era inútil e vazia
como um coração de cera.

Houve um dia, buscava a Resposta
Eu calava e ninguém parecia
perceber desespero e desamparo
de um jovem sem nome, caminhando
descalço em busca do horizonte.
Chegou a noite
e tentei esquecer de mim
observando, em lusco-fusco o teatro
que percorria nos sembrantes - tateante.
Como eu multiplicado,
cruzando o cenário do Absurdo.

Ele estava sempre comigo
e eu não o conhecia.
Dizia crer que existia em
algum lugar, algures, do Universo.
Mas não estava certo.
Se existir estaria há milhões de anos luz
de mim, pobre de mim.
Como podia ser meu amigo
ou ter misericórdia da humanidade?

Na verdade eu não sabia
desse Alguém que há muito
me espreitava .... parecia seguir de longe
às vezes tinha a sensação de estar perto,
porém invisível, sem afeto - Apenas ilusão?

Comia meu pão, bebia minha bebida,
lia meus livros, tragava meu cigarro,
escrevia versos, dançava no ritmo de
minha própria música
... Porém apenas o Nada não me saciava!
Voltei ao meu quarto
e no escuro tentava dormir
em busca de um sonho,
perseguindo uma pista.
Algo além de minha própria solidão.

Houve uma noite
que gravei no coração para todo sempre
- Óh! Glória! -
e que há de me acompanhar
pela eternidade.
Eu vinha daquele dia triste e vazio
- todos dormiam -
então eu percebi algo diferente
me tocando e ao tocar levava-me
ao extase que jamais havia percebido.
Era uma visitação que fazia vibrar
as fibras da minha alma, agora consolada.
O toque percorria meu corpo.

Alguém que veio de fora de mim mesmo!
Não uma visagem ou onírico delírio
Agora eu descobria ser real o parentesco
Semelhante àquela eterna Raça.
Ah! Doce revelação em ondas de ternura
indescritível - como a lavar, regenerar,
tocando a cabeça e penetrando
fundo a minha mente.
Ah! Banhando o coração na maravilhosa graça!

Não vi uma imagem!
Não recordo de nenhum sussuro em meus ouvidos
Era ele a quem chamamos DEUS
e que o Santo Evangelho nomina como AMOR!
Desde então essa Paz me consola e me ampara
em minha imperfeição e insuficiência.
Me perdoa e aceita como estou
fazendo-me ser o que verdadeiramente sou.
Certeza que nenhuma racionalização
pode tirar de mim
e à qual jamais renunciarei.

Aquela foi a primeira visitação
Intensa e suave.
Tudo mudou e nunca mais andei sozinho.
Meu coração antes vazio e frio
foi aquecido para sempre.

Um poema de Stephanie Perote de Oliveira

*
Foto tirada aqui no quintal, de um Beijo Dobrado.

Verei a face de meu Deus


Senhor já estou pronto!!!
Estou esperando por seu retorno triunfal!
Você virá em breve.
Este mundo não tem nada para mim.
Encontro minha paz e alegria apenas,
Em você... Oh Senhor. Apenas em você.
Quero que o mundo veja que você está vivo e que habita em mim.
Deixe-me ser parte da colheita, pois os dias são poucos.
Você virá em breve.
Estejam prontos, Jesus está voltando, logo estaremos indo para casa.
Jesus está voltando para levar os seus.
Haverá um dia em que seremos separados à direita e à esquerda, aqueles que o conhecem e aqueles que não o conhecem.
Aqueles que te conhecem bem o encontrarão em pleno ar. Aleluia!
Deus está conosco.
Ah!, meus amigos, vejam...
Haverá um dia em que seremos contados,
Então o conheçam bem!
Deus seja louvado!

Fonte: http://www.verbalizar.com.br/

sexta-feira, agosto 21, 2009

Um poema de Flávio Américo

*
Empinador de pipa, Marco Bastos

Uma pipa e o Vento


O Vento passou e deixou arrepio
Mas não digo que Ele é passado,
Pois, da pele, me lembra cada fio
Que Sua presença ainda se faz sentir.

Sou, como pipa, guiado pelo Vento
Com outras, fico colorindo o céu
Se não voar, a pipa deve virar réu,
Já que o papel da pipa é voar

E esse Sopro, esse Vento cálido,
Enche a terra com hálito de vida
Tolo, sem graça, é quem duvida
Morto, pois só respira o nada

Às vezes, quero amarrar o Vento,
Pois me angustia o parar de ventar
Todo tipo de cerimônia eu tento
Inútil, Ele “sopra onde quer”

Doce Vento, bondoso e livre,
Tenha piedade dessa pobre pipa
Guia-me, faze-me voar Contigo
E da queda eterna me livre.

Visite o blog do autor: http://palavrasboladasereboladas.blogspot.com/

Um poema de Brisa Meline

*

SAUDADES DO AMADO


Estou em terra estranha
Longe do meu lar
E sem ver sua face
É mais difícil ficar

Não me adapto com este mundo
Que tão confuso é em meus olhos
Sou estrangeiro para todos
Admirado, escarnecido...

Sinto fortemente a presença
O calor de suas mãos
Teu olhar me acompanhando
Em meio à escuridão

Bom que enviaste um amigo
Que guia-me na jornada
Curando as feridas
Causadas na estrada

Mas sinto sua falta
Quantas saudades, amado meu...
Minha alma inquieta
Espera os braços seus
*

terça-feira, agosto 18, 2009

Dois poemas de Thiago Azevedo

*

Da escuridão se fez poesia

Haja luz!
E tudo se fez poesia.
No primeiro verso do poeta,
Que da escuridão,
Tudo tornou belo.

Preciosas palavras,
Que através delas
Esse majestoso autor
Tudo formou,
Tudo criou.

Bela poesia,
Que conta uma história de amor,
De um poeta que só sabia amar
E através de belos versos,
Uma beleza sem igual,
Primeiro casal,
Primeiro par.

Amor que aos dois une,
Sentimento que mutuamente se nutre,
Entre versos e poeta.

Nós somos versos
De uma bela poesia,
Do poeta que se fez verbo
Para amar cada vez mais
E no toque de seu abraço,
Trazer a paz.

Para os seus
Que há muito esqueceu
Da beleza da poesia
E das palavras do poeta
Que a tudo vida deu.

E agora na morte
Uma nova poesia
Escrita com sangue e dor
O verbo deu sua vida
Como versos de amor.

Para reescrever a história
E recriar os versos
Para uma nova poesia.

Haja amor!
Primeiro verso declamou
Que da escuridão
Nova poesia formou.



Histórias em verso

Não,
Não me deixe esquecer
A beleza das palavras
Que aprendi a escrever,
De punho e pincel
No branco infinito
Da folha de papel.

A história que aprendemos a contar,
Nossa história de amor,
Oscilante entre amor e desamor.

Entre promessas
E juras deferidas,
Tua história
Fundia-se a minha.

Hoje já não sei
Onde começa a tua,
Ou a minha.
Apenas caminhamos,
Escrevendo
A nossa própria história.

Ainda não pensamos no final.
Mas de que importa?
Se o hoje se escreve agora

Em versos imediatos
Deixando-os apenas fluir
De nossas almas,
Fundidas e confundidas.

Melhor deixar o amanhã
Para amanhã,
Pois o que quero hoje
É apenas te amar,
Por mais este minuto
E poder escrever
Mais um verso
Em nossa história.


Visite o blog do autor: http://mangaepoesia.blogspot.com/

sexta-feira, agosto 14, 2009

Quatro poemas de Fernando Gruppelli

*
Juan Miró

QUANDO NOS ENCONTRAMOS

Ao teu encontro

vou como sou

vestindo minha imundície

me apresento

sou o publicano e a prostituta

não tenho defesa nem desculpas

carregando minha trouxa de pecados

sou o que sou


ao teu encontro

vou sem cuidado

eu e minhas culpas

meu erro de ser


ao teu encontro

ouso ir como estou

nada ofereço

a não ser o que sou

...

do teu encontro

volto outro

nu

em silêncio

e em paz


lavado de sangue




ELE

Aquele homem morrendo na cruz
Eu o amo

Aquele homem
sua dor
e seu terror
Eu o amo

Aquele homem
sozinho
e
abandonado
não há ninguém por Ele
mas eu o amo.



MEDO

Que hei de fazer?
Quando o silêncio que grita do meu olho não for mais escutado."
Manoel de Barros

e se de repente me morrer a poesia?
se de repente retornar a sensatez?
e se voltar a ver tudo tão claro como antes?
e se o mundo ficar sóbrio outra vez?
e se a beleza não for mais sentida?
e se tudo perder o encantamento?
e se o relógio bater meia-noite?
e se tudo tiver razões?
e se o mistério for explicado?
e se o abismo se transformar em caminho?
e se as palavras tiverem sentido?
...
Não permita Deus.



TU

Em TI tudo faz sentido.
Em
TI tudo está contido.
Contudo, às vezes, ainda me sinto perdido.
Um dia, em
TI, estarei completo;
serei pleno e repleto
em
TI somente.

Todavia, neste instante, é só um sentimento,
eternidade em semente,
sêmen da plenitude em movimento,
vento que anseia
por
TI somente.



O Fernando mantém três blogs poéticos. Vale a pena visitar cada um deles:

FALÁCIAS e DECLARAÇÕES DE AMOR
Vareios e Desvarios
HAI KAIS CAEM DO CÉU

segunda-feira, agosto 10, 2009

Dois poemas de Anderson Almeida

*

EFÉSIOS

Pela graça somos salvos
Pela graça de Jesus,
pela fé somos eleitos,
Pela fé, vemos a luz.

A salvação é um dom
Que vem de Deus criador
Pois somos feitura sua
Criados pra seu louvor.

No tempo da ignorância
Vivíamos longe, é certo
Mas hoje em Jesus Cristo
Todos nós chegamos perto.

Jesus Cristo é nossa paz
De dois povos fez um só,
Desfez a inimizade
Nós deu a paz, que é melhor.
Por Cristo temos um espírito
Por isso alegre canto,
Agradecendo ao Senhor
Pelo espírito que é santo.

Já não somos estrangeiros,
Já não somos forasteiros,
Mas, concidadãos do céu
Pra ganhar o mundo inteiro.

Edificados em Cristo,
Que é a pedra principal,
Pedra firme, rocha forte
Não há outro assim, igual.

Sede firmes e constantes
Sempre em direção da luz
Sem desviar do caminho,
Olhando só pra Jesus,
Pois só ele é a verdade
Que para o céu, nos conduz.



ÊXODO

Gn.15.13: Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos,

Quando José era rei
Seu povo foi pro Egito
De acordo com a palavra
Que Deus havia predito.

Foram só setenta almas
Que no Egito chegaram
Mas com as bênçãos de Deus
Logo se multiplicaram.

Os filhos de Israel
Se tornaram em multidão
Eram um grande povo,
Já eram uma nação.

Faraó armou um plano
Pra Israel humilhar
Na condição de escravos
os fazia trabalhar.

Quanto mais os maltratava
Mais esse povo crescia
Porque ficava mias forte
Faraó não entendia.

Faraó fez um decreto:
De Israel todo macho
Que por acaso nascer
Será morto com certeza
Esse não deve morrer.

Da tribo de Leví
Um dia nasceu um menino
Deus não deixou que morresse
Deu a ele outro destino.

Num cesto a mãe colocou
O menino recém-nato
Pois era plano de Deus
Que acontecesse esse fato.

A filho de Faraó
O menino encontrou
Retirou ele das águas
Como filho o adotou.

Como Deus cuida de tudo,
Fez a moça contratar
A própria mãe do menino
Para do mesmo cuidar.

Disse a filha de faraó:
- Por Moisés será chamado
Porque do meio das águas
Eu o tenho retirado.

Aconteceu que já grande
A seus irmãos visitava
Quando viu que um egípcio
A um hebreu, maltratava.

Ao defender seu irmão
Ao egípcio matou
Fugiu então pro deserto
Em mídia abitou.

Os filhos de Israel
Sofrendo grande aflição
Se puseram a clamar
E Deus teve compaixão.

Em Horebe, Moisés viu
Que a sarça em fogo ardia
E percebeu que a sarça
O fogo não consumia.

Moisés quis chegar bem perto
Para ao fogo observar
Foi então que ouviu
Uma voz a lhe chamar.

“Moisés tira as sandálias
Pois é santo este lugar
E presta bem atenção
A tudo que vou falar.”

Eu sou O Deus de Abraão,
De Isaque e de Jacó
Vi quanto sofre meu povo
Nas garras de Faraó.

Decidi então livrá-los
Deste destino cruel
Os levarei a uma terra
Onde mana leite e mel.

Quando alguém te perguntar
Quem foi que te enviou
Responda sem duvidar
Que foi o grande EU SOU.

Eu Sou o Deus de teus pais
Deus de Abraão e Jacó
Hei de levar esse povo
Pra uma terra melhor.

Uma terra boa e larga
Darei ao povo hebreu
Onde vive o cananeu,
O heteu, e o heveu.

Disse Moisés: mas senhor
Em minha voz não crerão
Disse Deus: o que tu tens?
Respondeu:- é um bordão

Deus mandou lançar em terra,
Em cobra se transformou;
Moisés pegou pela cauda
E em bordão se tornou.

Moisés ainda tentou
Com o Senhor argumentar
Dizendo: eu sou pesado de língua
Meu Senhor não sei falar.

Eu fiz a boca do homem
E nela posso botar
A palavra adequada
Pra no momento falar.

Ah, Senhor, envia àquele
Que tu hás de enviar
- o teu irmão Arão
Vai falar no teu lugar.

Ao chegar ao Egito
Moisés junto com Arão
Reuniu todo o povo
Do mais novo ao ancião.

Moisés então
Com faraó foi falar
-O Deus de Israel
Seu povo quer libertar

Nas palavras de Moisés
Faraó não viu sentido
Então o seu coração
Ficou mais endurecido.

As tarefas dos Hebreus
Faraó mandou aumentar,
Agora com mais rigor
Os fazia trabalhar.

Moisés disse a faraó:
-Deus te mandou libertar
Seu povo pra no deserto
Este povo O adorar.

Se tu não os libertar
Tão certo como eu vivo
Enviarei sobre ti
O mais severo castigo.

Às palavras de Moisés
Faraó não atentou
Inda mais endurecido
O seu coração ficou.

Disse o Senhor a Moisés:
Faraó não quer, meu povo libertar
Por isso sobre o Egito
As pragas irei mandar.

Tu irás até o rio
A vara vais esticar
Do Egito toda água
Em sangue se tornará.

Foram preciso dez pragas
Pra Faraó entender
Que lutando contra Deus
Ninguém nunca vai vencer.

Teve a praga das rãs,
Piolhos, moscas e peste
Úlceras, chuva de pedras,
Pra faraó foi só um teste.

A paga dos gafanhotos
Toda erva devorou
Em toda terra do Egito
Nenhuma erva ficou.

A praga das trevas
Trouxe tal escuridão
Que coisa alguma se via
Em toda àquela nação.

O coração de faraó
Inda mais duro ficou
Ameaçou Moisés de morte,
Ao povo não libertou

Deus então disse a Moisés:
A páscoa vai preparar
Um cordeiro sem defeitos
Deverás tu imolar.

Com o sangue do cordeiro
Sobre as portas marcarás,
Onde houver marca de sangue
A morte não chegará.

Ouviram a voz de Deus
O cordeiro foi imolado
A marca do sangue mostra
Um povo que é separado.

Ao passar da meia noite
Veio o anjo do Senhor
De toda casa do Egito
O primogênito matou.

Faraó mui perturbado
Conforme a bíblia diz
Mandou que Israel saísse
Urgente de seu país.

Foi assim, querido irmão
Que o Senhor veio libertar
Com poder, com braço forte,
Um povo pra o adorar.

Depois de libertá-los
Pelo deserto os guiou
Durante quarenta anos
De Israel Deus cuidou.

Pra conhecer direitinho
Em detalhe, em pormenor
Leia a bíblia com carinho
E entenderá melhor

Tu irás compreender
Por que um Deus poderoso
Cheio de glória e de honra
É um Deus tão carinhoso.

Como libertou Israel
De tão grande escravidão,
Do pecado te liberta
E te concede perdão.

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sexta-feira, agosto 07, 2009

Um poema de Gióia Júnior, especial para o Dia dos Pais

*

Em homenagem ao Dia dos Pais, publicamos aqui o terno poema Uma Vida em Minha Vida, escrito pelo saudoso poeta Gióia Júnior em homenagem a seu pai, Pr. Raphael Gióia. É um poema longo e permeado por uma doce tristeza, mas belíssimo. Que ele possa nos fazer refletir – para aqueles que já não tem mais seu pai consigo, que esse texto possa evocar as melhores lembranças; e para os que os tem, vivos, que faça com que eles sejam valorizados ainda mais.

Boa leitura!

UMA VIDA EM MINHA VIDA


Perdi-o.
Não o tenho.
Telefonarei para sua casa, e da distância, voz um tanto
abafada, palavras de ternura de rosa (desta mesma rosa
amarela que está sobre a mesa em que escrevo)
ele não falará comigo.
Irei buscá-lo em meu pequenino carro barulhento, para
as longas visitas habituais, e ele não irá comigo.
Não estará mais lendo em sua biblioteca (a imensa
colméia de onde vinham seus sermões). Não virá mais orar
à cabeceira de minha cama, quando eu estiver doente.
Seu púlpito está vazio.
Tristemente vazio.
Onde os largos gestos firmes?
As mãos para traz
e o corpo todo sentindo o sermão na ponta dos pés?
Onde o timbre da voz,
doce e penetrante,
metálico às vezes,
outras vezes aveludado?
Nos aniversários, não lerá para nós o salmo predileto.
No Natal, enfeitará de saudade nossas possíveis alegrias.
O terno preto dos domingos, levou-o um pobre.
O chapéu inconfundível,
real como uma vida,
dorme sobre o cabide.
Não há mais sol ou chuva
que desçam sobre sua cabeça pintada de neve.
“Eu irei para ele, porém ele não virá para mim.”
Não o tenho. Perdi-o.
Há coisa mais triste?

II
Eu era pequenino, de calças curtas.
Igreja Paulistana há alguns decênios. Dona Ida, Dona
Paula, Dona Noêmia, Seu João Donatz, Arnaldo de Matos,
Furtado de Mendonça, Dona Dagmar, Dona Alcina, Diácono Iraci.
Na escola dominical eu teria de dizer uma poesia.
Uma das primeiras poesias que disse em minha vida.
Ela falava de um pai que ia ficando velho,
cujos cabelos embranqueciam.
Falava do filho que não queria perder o pai.
Naquele tempo meu pai era moço e forte.
Olhos de brilho penetrante. Cabelos negros.
Não consegui declamar a poesia até o fim.
Chorei.
Seu Mendonça chorou, me carregou no colo. Papai chorou.
A Igreja chorou.
Isto foi há muitos, muitos anos.
Que gostosa aquela tristeza!
Eu era menino, papai era moço –
Havia uma longa vida pela frente.

III
Levou-me pela primeira vez ao Colégio. Eu e Paulo.
Ao Colégio Batista da mesma Rua Homem de Melo, nas Perdizes.
O Diretor era Mister Morgan.
As professoras eram Dona Ludmilla, Dona Leleza.
Dona Leleza que tocava piano enquanto a gente
do Jardim da Infância dormia.
Paulo não quis ficar. Fugiu. Fui atrás dele.
Meu pai ria, ria, ria.
No Jardim, eu repetia para os coleguinhas
toda aquela belicosidade de meu pai.
Um dia agarrei um santinho do peito de um menino,
joguei-o ao chão e provoquei:
- “Não é santo. Piso nele e ele não faz nada!”
- “Quieto menino, respeite a religião dos outros.”

IV
Foi meu Professor de Português.
Preparou-me para o admissão.
Graças ao seu grosso lápis vermelho e azul,
tirei as melhores notas e aprendi a conjugar os verbos,
especialmente no imperativo negativo e positivo.
Fomos para Campo Grande.
Ele foi meu professor nos 4 anos de Ginásio.
Dava notas mais rigorosas para mim.
Eu caprichava nas composições,
mas os colegas tinham notas mais altas que as minhas.

Um dia fiz a composição de outro colega.
Tirei nota inferior.
Ele soube depois e riu muito.
- Tenho que puxar pelo meu filho.
Quero que ele saiba mais que os outros.

V
Leu meus primeiros poemas:
- Não está bom não, filho, está um tanto forçado.
Poesia é algo muito natural. Assim como a respiração, entende?
Nada o satisfazia.
Queria que o filho escrevesse melhor.
Um dia escrevi um poema para mamãe,
que estava doente e longe da gente.
Levei ao escritório para que o lesse.
Leu-o e não disse palavra.
Tirou os óculos, enxugou uma lágrima.
Depois me abraçou e chorou. Chorou muito.
Chorava e ria como o faria muitas vezes vida à fora –
Foi o maior elogio que fez a um poema de seu filho!
Prefaciou gulosamente,
de olhos arregalados como uma criança que come um doce,
os dois primeiros livros que escrevi.
Era o primeiro a ler qualquer poema que eu escrevesse.
O meu crítico, o meu orientador, o meu amigo.

VI
Aos dez anos me batizou,
ali no batistério da Primeira Igreja Batista.
Era uma noite fria.
Salústio Areias também foi batizado no mesmo dia.
Eu tinha tido sarampo.
Disseram que era perigoso uma recaída.
Ele não acreditou nisso.
Fez questão que o batismo fosse naquele dia.
- “Meu filho (para os outros dizia, meu irmão)
renovas a tua profissão de fé,
consciente e livre
feita perante a Igreja e perante Deus”
- “Renovo!” - respondi, rouco e tímido.
Eu estava amedrontado.
Levantou a mão direita. Colocou a esquerda sobre o
meu ombro. Baixou a cabeça e exclamou em alta voz:
- “Eu te batizo em nome do Pai, e do Filho
e do Espírito Santo. Amém!”
E, me olhando por cima dos óculos,
falou baixinho aos meus ouvidos:
“não tenha medo”.
E por suas mãos firmes e enérgicas
belas e claras,
fui mergulhado nas águas batismais.

VII
Fez o meu casamento na Igreja do Brás.
Chamou Dinorah num canto e disse brincando:
- Se algum dia ele judiar de você, venha à minha
Casa e se queixe. Puxo as orelhas dele.
Minha nora é minha filha.
- Numa fria e cinzenta manhã de junho,
ficou torcendo comigo para que o meu primeiro filho
fosse um homem:
- “Vai ter o meu nome, será o neto!
Quando crescer vai herdar de você
o grande relógio velho do meu escritório, que foi de
meu avô e de meu pai.”
Aquele mesmo relógio para o qual escrevi uma elegia.
- É menino!
Chorou comigo. Chorou e riu como tantas vezes o faria vida a fora.
Fomos juntos, como dois colegiais, registrar o meu primeiro filho.
Depois veio Rosely e a alegria foi a mesma:
agora era a netinha.
Chorou comigo. Riu comigo.
Fomos juntos, conversando como dois companheiros,
registrar no Cartório do Brás
a menina que trazia tanta alegria ao nosso lar.

No Hospital das Clínicas,
a maior preocupação do Erasmo era a saúde de meu pai.
- Não quero que ele venha aqui. Não quero que ele se impressione.
Como está papai?
- Papai está bem!
Paulo não chegava de viagem sem que viesse tomar a
bênção de seu velho pai:
- Ando meio preocupado, papai está um tanto abatido...
Erasmo foi chamado à Glória de Deus.
Paulo foi fazer companhia a Erasmo.
Vovó foi também cantar louvores no céu!

Papai está bem!
Como está bem? Tem chorado muito!
Chorado sem que ninguém o veja.
Escondidinho no escritório.
De noite, quando os outros dormem.
Saudades que seu coração quase não suporta.
Muitas vezes esteve à beira da morte,
e as orações dos crentes de todo o Brasil o fizeram sarar.

- Quando Deus tiver de me levar,
a Igreja nem saberá que estou doente,
para que não tenha tempo de lutar com Deus,
pedindo a minha cura.

VIII
Quantas visitas fez?
Quantos sermões pregou?
Em quantos Estados semeou?
Quantas almas levou para o aprisco do Mestre?
A quantos confortou, esclareceu,
encaminhou, dirigiu, ensinou, orientou, guiou, salvou?
Não sei. De uma coisa sei, “que eu era cego e agora vejo”!
Foi o Billy Graham caboclo,
o Moody de Piracicaba.
Sem recursos, sem equipes, sem meios,
sacudiu a Pátria com a sua palavra simples,
direta, humana, enérgica,
convincente, comovente,
plena do poder do Espírito Santo.

IX
Perdi-o.
Não o tenho.
Desejarei falar com ele,
como quem morre de sede,
e ele não ouvirá a minha súplica.
Trocarei bens e glória
e prazeres e planos
por uma migalha de seu sorriso,
por uma gota do brilho dos seus olhos.
Não sorrirá. Não me verá.
Dele resta o grande vazio que ninguém preenche.
Um nó em minha garganta,
as mãos trêmulas, os olhos vermelhos.
Enquanto morria,
seus colegas pastores estavam à sua cabeceira.
Ele respirava compassadamente.
Não via, não falava, não se movia.
Apenas respirava.
O seu sopro parecia o bater nervoso
das asas de um pássaro ferido.
Eu, Guta, Elza Helena, Maria Helena, Lídia Helena e
mamãe chorávamos um choro manso,
sem gritos, sem revolta, sem blasfêmia.
A respiração foi se ralentando.
Foi murchando lenta e suavemente. Parou.
Pastor Erodice recitou e todos nós repetimos:
- “O Senhor nos deu, o Senhor nos tomou.
Bendito seja o nome do Senhor!”

X
D. Gláucia Petcov olhou para mim e repetiu baixinho
um trecho do meu poema VEM DOCE MORTE:
“... és um sussurro manso...”
pela certeza de que
“os que crêem NELE ainda que estejam mortos,
viverão.”
Felizes, porque
“Uma mui feliz cidade existe
além das brumas e da cerração.”
A Jerusalém excelsa onde não há mais pranto nem dor.
A Cidade Santa.
Quando deixávamos o Araçá, Dinorah sentiu as primeiras dores.
Menos de duas horas depois,
Deus, no seu infinito amor,
mandava o meu terceiro filho – o Rubinho.
O netinho que o vovô não conheceu.
O netinho que alegrou o coração da vovó
e do papai e da mamãe e dos tios,
no dia em que nosso tesouro ficava no Araçá.
http://poesiaevanglica.blogspot.com
XI
Registrei meu filho no Cartório do Brás.
Guta foi comigo.
Papai não assinou como testemunha.
Papai não está mais com a gente.
Perdi-o.
Não o tenho mais!
Não o terei mais! Nunca mais!
Nos aniversários, não lerá para nós o salmo predileto.
No Natal, enfeitará de saudade nossas possíveis alegrias.
O terno preto dos domingos, levou-o um pobre.
O chapéu desabado, cinzento, fosco,
murchou como estranha flor.
Os cãezinhos não farão mais festas a seus pés.
Os canários, aos quais levava alpiste todas as manhãs,
não cantarão mais para seus olhos de menino feliz.
Não dará mais o braço à minha mãe,
na caminhada terna e carinhosa dos domingos.
Os vizinhos não dirão mais:
“Vão eles de braços dados. Parecem adolescentes.
Dois namorados, isso é o que parecem.”
(Minha mãe,
minha linda mãe, filha de um corajoso espanhol de Málaga,
é uma rocha em frente ao mar.
Batida pelas ondas e pelos cortantes ventos da costa.
Em três anos perdeu a mãe, o marido e dois filhos.
Mas é quem nos consola,
quem nos conforta,
quem nos encoraja.)
Não morreu, no entanto.
Está no trabalho que fez,
nos livros que escreveu,
nos sermões que pregou, nas almas que levou a Cristo,
na Igreja que dirigiu.
E em mim.
No que penso, no que falo, no que escrevo, no que vivo.
Meu exemplo, meu estímulo, meus poemas, minha saudade.
Minha enorme saudade.
Minha vida.
Uma vida em minha vida!

Do livro '25 Anos de Gióia Júnior' (Editora Betânia).

Você pode ler muitos outros poemas de Gióia Júnior clicando Aqui, Aqui e Aqui. E AQUI, um pouco da história do poeta, que foi também político e apresentador de televisão.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Um poema de Rosimara Dias

*

O melhor amigo

Às vezes coisas ruins acontecem
intercaladas entre os momentos bons
solidão, perdas, saudade
nesses momentos um amigo cai bem, né?

Te ouvir, enxugar lágrimas
ficar perto, sempre, até em silêncio
disponível em qualquer momento
um ombro que não se importa em ser molhado

Amigo mais chegado que um irmão
mais fiel que uma mãe
seu amor não está condicionado ao que fazemos
se compadece, como um pai


Ler suas cartas dá um novo fôlego
carta de amigo consola, ensina
66 cartas - uma infinitude de amor expresso ali
tantos conselhos. obrigado amigo Espírito Santo!

Um amigo excepcional. cai bem em todo tempo
inclusive nos momentos bons e alegres
não somente quando as coisas ruins acontecem

Visite o blog da autora: http://rosi-itq.blogspot.com/

terça-feira, agosto 04, 2009

Um poema de Wagner Antonio de Araújo

*

ORA

Quando não entenderes o porquê de tudo isso,
Quando não compreenderes como foi que a situação chegou a esse ponto,
Quando te desesperares da própria vida em função do sofrimento,
Ora.

Quando teu pai abandonar-te, sem dar-te chance de explicar,
Quando tua mãe não tiver misericórdia, julgando-te sem compaixão,
Quando tua esposa acusar-te injustamente, sem que tu sejas culpado,
Ora.

Quando teu marido não mais amar-te,
Quando teus filhos de tua casa forem embora,
Quando teus amigos, sem saber, julgarem-te sem que sejas culpada,
Ora.

Quando tua luta estiver tão grande,
Quando o desespero envolver teu pranto,
Quando a amargura colorir teu rosto,
Quando a solidão tornar-te teu manto,
Ora.

A oração é o começo, ela é o fim também,
Quando não conseguires cantar porque não sentes,
Ou não conseguires ler, porque não podes,
Nada poderá impedir-te de orar ao teu Pai bendito.

Ele, com fidelidade,
Jamais te abandonou;
Mesmo no desespero do teu andar solitário

Ele ao teu lado continuou.
Mesmo quando desististe de ti próprio, Ele não descartou-te

E foi contigo, passo a passo, a guiar-te, a assistir-te.

"Não entendes isto agora" disse Ele,

"Entenderás depois"

Se por erros cometidos, ora e pede perdão.
Se por mágoas infinitas, ora e abandona-as para sempre.
Se por dúvidas sem nexo, ora e esquece-as.
Se por dívidas sem fim, ora e paga-as.
Se por recursos que não tens, ora e pede-os

Se por trabalho que te falta, ora e procura-o

A oração é o remédio,

ela é também consolo.
A oração consegue ir

onde a dor, a mágoa e o grito não vão.

Grita bem alto e não serás ouvido;
Ora baixinho e o Senhor te escutará.

E quando menos perceberes
Teu problema terá ido,
Teu coração estará tranqüilo
E tua mente bem clareada.

Porque quando tu oras ao teu Pai
Ele toma teu fardo para Si
Retira a dor e o peso dos problemas
E devolve-te o fardo leve e suave,

repleto de flocos de esperança

E sementes de felicidade.

Se nunca experimentaste depender só de Deus,
Aproveita tua dor
Aproveita o desespero
E ora.
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